//Halitose em menores: o bullying silencioso

Halitose em menores: o bullying silencioso

A percentagem de alunos que admite ser frequentemente vítima de bullying em Portugal situa-se nos 5,7%, segundo os dados do Relatório Pisa 2015: O bem-estar dos estudantes.

Julho de 2017. Segundo os dados do Instituto do Hálito em Portugal de 2017, 21.9% dos pacientes em tratamento tem menos de 15 anos, entre os quais o 56% são raparigas.

Julho de 2017. Um dos problemas sociais mais importantes dentro do âmbito educativo é, sem dúvida, o do bullying. A percentagem de alunos que admite ser frequentemente vítima de bullying em Portugal situa-se nos 5,7%, segundo os dados do Relatório Pisa 2015: O bem-estar dos estudantes, um estudo publicado este ano e baseado numa amostra de 540.000 estudantes de 72 países, dos quais 7325 estudantes são portugueses. «O bullying nasce das diferenças. Um menino de óculos, com excesso de peso, muito alto ou baixinho costuma ser rejeitado pelo grupo, especialmente na presença de um “fanfarrão” ou líder negativo», afirma a psicóloga-pedagoga Rosa Serrate, autora do livro Bullying acoso escolar: Guía para entender y prevenir el fenómeno de la violencia en las aulas (Bullying: Guia para compreender e prevenir o fenómeno da violência nas salas de aula).

Para além do aspeto físico, existe outro fator muito importante e também responsável pelo bullying nas salas de aula: a halitose ou mau hálito, uma patologia que também está presente entre os jovens. Segundo dados do Instituto do Hálito, centro ibérico especializado no estudo, diagnóstico e tratamento da halitose com mais de 9.000 pacientes tratados em mais de 90 países, em 2017 cerca de 21.9%% dos pacientes tem menos de 15 anos ― entre os quais 56% são rapazes e 44% raparigas. «Os pais que entram em contacto connosco fazem-no porque estão preocupados com uma alteração no hálito dos filhos que estes não se atrevem a confessar», confirma o Prof. Dr. Jonas Nunes, diretor do Instituto do Hálito em Portugal e da Unidade Hospitalar de Halitose do Centro Médico Teknon (Barcelona), sendo o clínico responsável pelas Consultas do Hálito em Lisboa, na MD Clínica, e em Gaia, na Clínica Dentária d’Avenida.

Dentro das mais de 80 fisiopatologias que provocam o mau hálito, as mais frequentes em crianças e adolescentes nos centros associados ao Instituto são: saburra lingual (23%), gengivite (18%), patologias otorrinolaringológicas ― associadas a adenoides, amígdalas, obstrução nasal ou sinusites, entre outras ― (35%), problemas gastrointestinais e intolerâncias alimentares (26%) e outras (8%).

Contudo, apesar da elevada prevalência de menores com este problema, o «silêncio» predominante nos centros escolares relativamente a esta questão é surpreendente. «Existe uma falta de informação sobre a halitose, o que implica que os pais não associem o comportamento estranho dos adolescentes à presença do mau hálito», explica Serrate. Acrescenta ainda que «esta falta de informação prejudica também o psicólogo ou o orientador do centro, para o qual o mau hálito passa despercebido como possível problema».

Isolamento, depressão ou ansiedade: a halitose e as suas consequências

Entre os comportamentos mais habituais dos menores vítimas de bullying devido ao mau hálito encontram-se o isolamento, as dificuldades e a insegurança ao estarem com o grupo de amigos ―na idade em que, é importante lembrar, se começa a formar a personalidade que os vai acompanhar durante toda a vida―, a tristeza, a depressão ou a ansiedade por terem de evitar o contacto próximo com o próprio círculo de amigos.

«A primeira vez que me preocupei com o meu hálito tinha oito anos. Foi quando uma menina na escola me disse que a minha boca cheirava muito mal», afirma Mercedes, paciente do Instituto do Hálito. A mesma sensação que teve há mais de vinte anos Alexandra, também paciente do Prof. Dr. Jonas Nunes: «Desde que me disseram isso pela primeira vez, perdi toda a confiança em mim própria. Já tinha experimentado vários métodos para eliminar o mau hálito, sem resultados. Sentia-me muito insegura». Uma história que, contudo, graças a um diagnóstico e a um tratamento adequados, teve um final feliz: «Tenho novamente a mesma personalidade de quando era criança», confirma.

Apesar do desconhecimento por parte de profissionais, pais e alunos, nem tudo está perdido. «O segredo está na educação pelo respeito para os outros, e em fazer com que os nossos filhos nos digam o que é que se passa para podermos agir», afirma Serrate. Conclui que: «A obra de divulgação do Instituto do Hálito é fundamental para ampliar a informação sobre este bullying silencioso. Como é óbvio, existe uma solução».

Halitose em adolescentes: Plano de ação em 5 pontos

O Prof. Jonas Nunes indica 5 possíveis áreas de ação em caso de mau hálito em menores:

01. Higiene dental adequada e visitas periódicas ao dentista

Segundo a Sociedade Internacional de Odontopediatria, até à erupção dos primeiros dentes de leite, é suficiente limpar os dentes com uma pequena gaze de algodão nota de imprensa

húmida. A partir da erupção dos primeiros dentes, introduz-se a escova, de cabeça pequena e cerdas macias. Os pais têm de ensinar à criança como se faz, usando a escova delicadamente, depois de cada refeição. A quantidade de pasta tem de ser mínima ―o equivalente a uma lentilha―, e é aconselhável que seja sem flúor. A partir dos oito anos deve-se usar o fio dental para eliminar eficazmente a placa bacteriana que se encontra entre os dentes. Existem reveladores de placa bacteriana comummente usados pelos dentistas para verificar a eficácia da técnica de higiene oral realizada pela criança.

02. Limpeza regular da língua (duas vezes por dia) e uso de elixires bucais

É uma causa muito frequente de mau hálito, e elimina-se através do uso de instrumentos específicos (os raspadores de língua), que minimizam a sensação de ter vómitos em comparação com o uso da escova de dentes. Em alguns casos é indicado o uso de um elixir bucal específico para crianças (sem álcool e evitando alguns antimicróbicos como a clorexidina).

03. Comer quatro refeições por dia

Os jejuns prolongados tendem a provocar halitose. Quanto mais prolongado for o jejum, mais intensa será a halitose. A ausência de mastigação durante um longo período de tempo (com a consequente redução da produção salival) também contribui para o aparecimento de mau hálito. As dietas moles (ausência de vegetais crus e fruta) favorecem o aparecimento da saburra lingual. O leite pode provocar mau hálito em algumas crianças, tal como indica o Prof. Dr. Jonas Nunes no seu livro O Mundo do Hálito a descoberto (Ed. Gradiva).

04. Boca limpa e também nariz limpo

O Prof. Jonas Nunes adverte de que os fenómenos relacionados com a obstrução nasal e a respiração bucal são também causas frequentes de halitose. A limpeza nasal regular com soro fisiológico pode ajudar nos casos de obstrução nasal.

05. Se o problema persistir, leve a criança a um centro especializado em halitose

Se, apesar de ter seguido corretamente os pontos anteriores, o problema persistir, é preciso pedir ajuda a um especialista que possua tecnologia de diagnóstico (o «nariz eletrónico», por exemplo) para determinar a origem da causa, já que existem mais de 80 fisiopatologias que provocam mau hálito. O Prof. Dr. Jonas Nunes recomenda não realizar, em caso algum, um tratamento sem saber bem qual é a causa. «Nas nossas unidades de halitose, na MD Clínica e na Clínica Dentária d’Avenida, em Lisboa e Gaia respectivamente,tivemos vários casos de crianças e adolescentes aos quais, por exemplo, foram tiradas as amígdalas sem um estudo dos gases do hálito com o objetivo de resolver o problema, e afinal a causa era outra».

2017-10-02T11:24:21+00:00